
A nova volta dos Mutantes suscita a velha discussão sobre os reais objetivos de grandes ídolos do passado retomarem suas apresentações e, por que não dizer, carreiras, uma vez que muitos não têm nem de perto o sucesso individual que tinham no coletivo.
Logicamente que o retorno aos palcos de grupos consagrados só traz benefícios aos fãs mais jovens, que não puderam desfrutar do prazer da companhia desses astros enquanto a rebeldia do rock n’ roll batia à porta. Contudo, esse tipo de decisão expõe os músicos à questão do porquê de um retorno ao mundo artístico, que muitas vezes acontece décadas após o fim, algumas vezes prematuro, das bandas ainda ocupando seu lugar no topo.
Notoriamente as perguntas mais freqüentes, assim como as críticas, têm fundamento numa possível busca desenfreada por uma ativação de capital, já que retornos de bandas extintas soam como máquinas caça-níqueis para a maioria das pessoas ligadas ao ‘show business’. Tanto isso é verdade que a própria Rita Lee aludiu o primeiro retorno dos Mutantes como “velhos em busca de dinheiro”, até porque a fama não é um problema para qualquer um deles.
Propostas de um presente aos fãs, a vontade de reativar as formações e reencontrar a alegria em tocar - ou coisa parecida, já foram respostas saídas da boca de muitos preciosos dinossauros na volta à vida artística. É realmente louvável saber que eles se importam com a legião de seguidores que conquistaram enquanto ainda tinham cabelo e suportavam rotinas super carregadas de shows e viagens alucinógenas, repletas de muitas orgias químicas e sexuais.
Porém, mesmo sendo retornos entusiasmantes para o público, o simples fato de voltar a tocar as mesmas composições parece um ato desesperado para deixar a sombra que passou a pairar sobre pessoas que até pouco tempo eram tidas como lendas vivas.
Page e
Plant declararam certa vez a um jornalista, que questionava a não volta do
Led, que não fazia sentido voltarem a tocar juntos, porque, segundo eles, não eram mais as mesmas pessoas e as performances não seriam nem de perto algo próximo àquilo que os consagrou.
Mas então, o que seria necessário para fazer uma volta valer a pena? Talvez um disco novo, com composições inéditas e arranjos condizentes com a atual cabeça e pensamento dos integrantes da banda?! Talvez, e foi justamente o que os Mutantes tentaram provar nesta segunda edição do retorno da legendária banda aos palcos. “Mutantes Depois”, música de trabalho lançada recentemente na internet para download gratuito, mostra uma banda renovada (até porque da formação clássica apenas o guitarrista Sérgio Dias e o baterista Dinho continuam) e com uma pegada diferente na hora de criar, o que, em se tratando de Mutantes, não chega a ser nenhuma novidade. A música tem uma letra descontraída e um pouco enigmática, mantendo a cara da banda, embora o arranjo seja muito mais pop (não sei por que a Terra treme cada vez que se pronuncia essa palavra). Justamente por essa mudança na postura do retorno anunciado que está se criando uma mítica positiva nesta nova tentativa de reunir aquela que talvez tenha sido a maior banda de rock brasileira da história.
Não é por falta de fãs que o projeto não será um sucesso absoluto.
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