domingo, 24 de fevereiro de 2008

Daisyconfuso

Que? Um litro de wiskey de graça? Caraca não devia estar tomando, acho que já passei. Mas a coisa começou antes, há uns quatro meses quando o guitarrista nos deixou pra seguir a carreira solo ou quase isso, então tivemos que decidir o faríamos da Daisy órfã. Lembrei-me disso ao carregar a van com os instrumentos que ocupavam mais de seis lugares e escutava um pequeno gato, miando sem parar, de fome e de frio, órfão, uma referência? E enquanto carregava a guitarra, baixo, teclados, bateria eu escutava o eufórico conseguiu se formar na faculdade de direito, que bom; e que passou a perna no vendedor de carros, com um óleo grosso fazendo o motor pifado parar de bater. E minha senso-percepção quase infalível observou censuras e a trama mal resolvida de egos que oscilam em estrelismo, insegurança e uma sinceridade que só pode vir da Polônia, mas as mulheres com seus olhares gélidos nada alcoólicos não me mimam como o caçula e sim esperam mais de mim. Que posso fazer? O gato continuava miando, mais forte e no mato. Então na estrada comecei a relaxar, como venho fazendo nesse último ano, com a ajuda de um amigo, que me inebria, me sobe quente a cabeça e deixa bobagens da vida comum aparecer só bobagens da vida comum. E enquanto alguns tomam álcool pra falar as verdades eu o tomo pra não falá-las. No caminho já estávamos esquentando com cerveja, uma cachaça premiada e um doze anos que não durou doze minutos. Vai pra cá, carrega, vai pra lá, para pra comer, chegou os outros amigos, vamos entrar, camarim, uma foto, vich eu devo ter saído feio. Agora vai, segundos antes cadê o mano? Foi Buscar o wiskey. Estréia da Daisy, casa meio cheia. E aquele olhar germânico analista não me intimidou, mas fez eu botar mais gelo no copo. Toca uma, toca outra, vai melhorando, o som ta embolando, erros mortais, mas ninguém morreu, pelo contrário, mas vivos do que nunca. Todos de pé empunhando suas armas contra aqueles alemães nazistas. Eu já sabia que seria assim, e foi. Mas algo me surpreendeu, o baixista no meio da platéia, o guitarrista curtindo muito, o vocalista berrando alto, como um bom rocker já quase sem voz, agora quem canta são as entranhas, segura aí batera que aqui estamos loucos. E quem viu, viu. É claro que não souberam apreciar aquela catarse, impulsiva e frenética, não sabem a história. Digna de ser lembrada como um triunfo sobre nós mesmos, que mais fácil era ficar contando o vil metal, mas não! Estávamos lá, plantando sementes do nosso estilo. Mundo insosso. Será que aquele gato ainda estava miando sozinho? A volta foi embrulhada. Claro que passei. Tenho que me lembrar disso na próxima vez. Não esperava algo melhor de mim? Já não leio a literatura underground, agora sou personagem. Tenho aprendido a desaprender, desconstruir neste ciclo senoidal, mas já ta na hora de construir novamente. Esse não foi pra mim o começo, mas ainda o ponto final do ciclo anterior. Às vezes me dá vontade de escutar jazz. O jazz tem a ver com a idéia de compartilhar, não com a de competir. Socorre me quando me traio. O ar que batia em meu rosto aliviou minha náusea por pouco tempo. Chega em casa, “ai meu Deus” minha barriga. Deito-me com a cabeça sem pensar em nada. Melhor deixar pra amanhã. Mas no fundo ainda escutava o gatinho miando sozinho.

Um comentário:

Amyitis disse...

Antes tardo do que mais tarde...